quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"Ijji"

Texto escrito em 4 de julho de 2010, cujo título foi concebido após um golpe no teclado...


"Hoje não estou em um dia muito bom.

Não sei por que, mas às vezes me permito lembrar e fantasiar situações que talvez estivessem melhores se sepultadas no profundo do esquecimento e indiferença. Mas eu não sou assim. Tendo a guardar antigas marcas sob meu travesseiro e, sempre que as preocupações do dia-a-dia se apagam com as luzes do meu quarto, tais memórias eventualmente invadem minha mente e me levam a um mundo diferente, em que vontades perdidas podem ser tangíveis. Isso não me faz muito bem.

Ontem tive mais uma vez a confirmação de que não sou alguém comum. Sentado, observava o movimento, as pessoas se alienando numa massa irracional, dançando, se mexendo, bebendo copiosamente, num jogo de aparências do qual, teimosamente, me recuso a fazer parte. Vejo pessoas superficiais, relacionamentos superficiais, vivo essa superficialidade mesmo que involuntariamente. Aliás, pior: vivo essa superficialidade apesar de lutar fortemente contra ela.

Talvez minha maior luta seja realmente comigo mesmo. Com minha incapacidade de traçar planos e objetivos e busca-los de forma pragmática e irracional. Talvez o pensar demais e o sentir demais sejam dois de meus maiores defeitos. Não que eu não goste do meu senso crítico, do meu eu; nada disso. O problema é que ser assim me coloca numa situação extremamente desconfortável perante as outras pessoas. Talvez, se eu fizesse parte da onda de descerebração, me confortaria com tão pouco que reflexões dolorosas como essa nunca viessem à minha mente.

Meio e dia e meia, e mais parece que estou numa manhã solitária, nesse quarto com pouca luz devido à cortina apenas entreaberta. Minha mente nubla agora, entre esperanças, reflexões, tarefas... me sinto momentaneamente sem forças. Não sei o que faço, que atitude tomo. Acho realmente mais saudável voltar à rotina de ver a vida com bons olhos e ignorar esses “baixos” que me ocorrem. Uma pena que coisas tão intensas tenham sido apenas jogadas no lixo.

O mundo é lamentável."

4 comentários:

  1. Infelizmente somos dois então, que guardam as marcas, memórias, imagens, sons, lugares, situações e etc. sob o travesseiro para pensar nas mesmas quando a inquietação do dia-a-dia dão uma trégua.
    Acho que essa é a sina de todos os que remam contra a maré meu velho: somos fadados a travar uma eterna guerra entre a correnteza mundana que tenta nos arrastar e os nossos próprios princípios. E, mesmo quando nos deixamos levar, um pouco que seja, o fazemos sabendo que no íntimo de nossas mentes conturbadas não é aquilo que vai nos trazer a verdadeira satisfação ou a paz.

    Como dizem, é foda!

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  2. "Alguns homens vêem as coisas como elas são e perguntam: 'Por quê?' Eu sonho com coisas que ainda não aconteceram e pergunto: 'Por que não?'"
    - George Bernard Shaw

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  3. Din, como eu disse no primeiro post desse blog, cada texto se refer especificamente à época em que foi escrito e a seu contexto.

    Esse texto não me traduz ou retrata bem, a não ser naquele momento. Sei bem que a realidade é plástica e sujeita às alterações daqueles que agem com determinação. Assim vivo. Não sou mero produto do meio, pelo contrário.

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  4. esses baixos que lhe ocorrem são produtivos

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