terça-feira, 16 de novembro de 2010

Noite

Sou eu este que agora olha para a escuridão, enquanto escuto o peculiar barulho dos carros que passam na rua ao lado. Tento imergir minha mente em sonhos e descanso, enquanto ela se cansa, mergulhada em objetivos, reflexões, lembranças...

Olho para um céu estranhamente laranja, através da janela encoberta por uma cortina que permite a entrada de muito mais luz do que eu gostaria. Escuto o som calmo da chuva, que lentamente se apossa do ambiente, gerando uma atmosfera melancólica e de certa forma muito confortável.

Sou eu, aquele com quem sonhei na inocência de meu passado, quando imaginava quem seria aos 20 anos. Que olhava com interesse e esperança para um futuro em que todos aqueles obstáculos seriam superados (e a maioria de fato foi). Deito-me nesse velho e macio colchão, numa cama ainda mais velha, sobre a qual me ausentei da realidade na maioria de minhas noites, que agora parecem tão breves. Quantas diferentes facetas de mim aqui já repousaram: pensativas, tristes, alegres, compenetradas em um não-lugar. No fundo, sempre o mesmo – aquele que por anos olhou para frente em busca de uma visão confortável, que a cada noite planejou crescer; apesar de por tantas delas ter deixado essas idéias dormirem e se dissiparem dentro da imensidão.

Me levanto e retruco com um grafite que caprichosamente se esconde dentro da lapiseira. Volto a deitar-me e alguns pensamentos me fogem enquanto outros aterrisam em minha mente. Há em mim certo desespero para escrever, estou cansado. Muito cansado. Não por que me dediquei a tarefas custosas hoje, mas porque o fiz durante toda a vida.

Descansarei agora meu corpo e espírito. Não quero amanhã ser tomado pelo sono, me sentir pesado para voltar a caminhar na direção do tal não-lugar. O silêncio toma agora lugar do som da água que já não mais cai. Me permitirei fazer parte desse uníssono.


3 comentários:

  1. Putz grila, isso ficou muito bom. É assim que deveriam ser escritos todos os livros!

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  2. Penso "Quem dera fosse metade do que planejei" haha

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  3. Seu texto me carrega para outro mundo, me leva a pensar nos meus obstáculos, de alguns desviei, outros, cá ainda estão! O nosso crescimento é infinito...Se vivêssemos 1000 vidas...Em todas elas, haveria crescimento!
    Lindo Raphael, muito lindo mesmo!

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